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Corinthians: Uma Série de Falhas na Contratação de Empresas de Segurança
Por Redação FuTimão em 26/10/2024 11:08
Contratos de Segurança do Corinthians: Uma Série de Irregularidades
O Corinthians, um dos clubes de futebol mais populares do Brasil, tem sido alvo de uma série de questionamentos sobre a gestão de seus contratos de segurança. Uma investigação da Gazeta Esportiva revelou uma série de irregularidades e falhas na contratação de empresas para prestar serviços de segurança ao clube, incluindo empresas que operavam de maneira clandestina, sem autorização da Polícia Federal, e contratos sem licitação.
A investigação começou com a descoberta de que a Workserv Serviços Terceirizados, uma empresa que prestava serviços de segurança ao Corinthians , operava de maneira clandestina, sem regularização, sem autorização e Cnae (Classificação Nacional de Atividades Econômicas) adequado. A Polícia Federal, em uma visita ao Parque São Jorge, confirmou as irregularidades da empresa.
Em resposta à ação da Polícia Federal, o Corinthians inicialmente negou as irregularidades, afirmando que a Workserv "não faz segurança patrimonial, mas que presta somente serviços de escolta. Ou seja, não fica alocada no clube ou na Arena".
Contratos Clandestinos e Despesas Milhões
No entanto, após novas investigações, o Corinthians admitiu que a Workserv prestava serviços de segurança "nos termos do objeto das prestações de serviços", que incluíam "preservação de edificações e pessoas", além de controle operacional no CT Joaquim Grava e, em dias de jogos, tanto na Neo Química Arena como na Fazendinha.
A Workserv operou de maneira clandestina e prestou serviço ao Corinthians de janeiro a julho, sem firmar contrato com o clube em momento algum. A empresa emitiu, pelo menos, 29 notas fiscais - cinco delas foram canceladas - endereçadas ao clube, com numeração sequencial de 1 a 29 e com "prestação de serviço de segurança", inclusive para dias de jogos, citada na discriminação de algumas NFs. A soma dos valores destas notas é de R$ 2,8 milhões, ou de R$ 2,1 milhões com a subtração das notas canceladas.
O Corinthians , em nota oficial, afirmou que "a situação contratual com a empresa Workserv foi completamente formalizada e resolvida, sendo que a mesma não presta mais serviços para o SCCP, inexistindo qualquer pendência".
Falta de Pagamentos e Dívidas Milhões
Antes da Workserv, o Corinthians tinha contrato com a Verssat Segurança LTDA. O clube decidiu não efetuar nenhum pagamento à empresa em 2024 e rescindiu o vínculo em maio. Neste período de cinco meses, a empresa nunca deixou de prestar os serviços contratados, que tinham um custo mensal de, aproximadamente, R$ 176 mil.
A Workserv, mesmo com a presença da Verssat, emitiu nota fiscal para receber a mensalidade integral de R$ 341 mil pelo serviço, em teoria, prestado durante todo o mês de janeiro. Estes acontecimentos resultaram em uma dívida com a Verssat que, atualmente, circunda os R$ 3 milhões e terá de ser resolvida pela Justiça.
Nova Empresa Irregular
Para substituir a Workserv, o Corinthians contratou a Kiara Segurança Privada LTDA, outra empresa que não obtinha permissão da PF para prestar os serviços adquiridos pelo clube. O vínculo foi assinado em 1º de outubro, mas entrou em vigor no dia 27 de junho, mesma data que passou a vigorar o distrato com a Workserv. No entanto, a Kiara só obteve o alvará para exercer a atividade de segurança pessoal no dia 25 de setembro. Desta maneira, ela atendeu ao Corinthians de maneira irregular por três meses.
O contrato do Corinthians com a Kiara prevê uma despesa de R$ 358 mil por mês e vai até 30 de junho de 2026, ou seja, o acordo é de R$ 8,6 milhões. Se cumprido até o fim, esta despesa será ainda maior para o clube, pois só de agosto a outubro deste ano, a Kiara já emitiu, pelo menos, R$ 1,3 milhão em notas fiscais ao Corinthians devido a cobranças adicionais por outros serviços contratados e não especificados. As NFs da Kiara ao Timão, novamente, representam as primeiras notas emitidas em todo o histórico do CNPJ da empresa.
Compliance Ignorado e Riscos para o Clube
Para fechar com a Kiara, a diretoria do Corinthians não seguiu a recomendação do compliance do clube. O dossiê do compliance corintiano sobre a Kiara apontou seis bandeiras vermelhas, identificou que a empresa não tinha funcionários registrados e levantou riscos pelos fatos da empresa ser de pequeno porte, de baixo nível de atividade, de estrutura em local residencial e pelo contrato ter valores mensais superiores ao capital social da empresa.
A Gazeta Esportiva confirmou que nenhum dos 24 funcionários indicados pela Kiara para prestar serviço ao Corinthians têm permissão para exercer a atividade como seguranças. Da lista de nomes, anexada ao contrato com o clube, foi possível constatar apenas um funcionário habilitado para fazer segurança de eventos e de patrimônios, mas não segurança pessoal. O sistema não reconheceu o CPF de outros três nomes e apontou que os 20 funcionários restantes da lista não estão regularizados com a PF e, portanto, não podem exercer tal atividade prometida no contrato.
Alerta do Departamento Jurídico e Renúncia do Diretor
Leonardo Pantaleão, diretor jurídico do clube de 10 de junho até 30 de setembro, confirmou à reportagem que a Polícia Federal avisou ao clube de que a Workserv "não detinha as autorizações necessárias para atuar no escopo no qual fora contratada". Ele também explicou que fez questionamentos adicionais sobre a Kiara Segurança Privada LTDA tão logo recebeu a solicitação para formular o contrato com a empresa.
"Após alguns dias, a diretoria administrativa retornou com respostas consideradas insuficientes para eliminar os riscos evidenciados pelo compliance".
O caso com as empresas de segurança foi a gota d'água para Leonardo Pantaleão abdicar da liderança do departamento jurídico do Corinthians menos de quatro meses depois de ser anunciado pelo presidente Augusto Melo. "A minha renúncia não foi motivada somente por um assunto pontual, mas como um reflexo de um padrão de desconforto que se acumulou pelo período em que estive da Diretoria Executiva. Esse contrato em particular, somado a outras situações que conflitavam com a minha visão de uma gestão transparente e eficaz, tanto na parte administrativa quanto financeira, gerou um ambiente que se tornou insustentável para a prática das minhas convicções", concluiu.
Mais Empresas, Mais Riscos e Investigações Internas
Nos últimos 10 meses, pelo menos 14 empresas prestaram serviços de segurança, vigilância e semelhantes ao Corinthians . A despesa com estes serviços já superou os R$ 10 milhões em cobranças feitas por notas fiscais, sendo que, no mínimo, 19 notas deste montante foram canceladas e representam R$ 1,3 milhão.
Das 14 empresas, segundo a plataforma de controle da Polícia Federal, apenas três estão regularizadas e aptas a operar neste momento. O site não reconheceu outras cinco e apontou seis delas como empresas que não estão adequadas e, portanto, são consideradas clandestinas.
A relação do Corinthians com as empresas de segurança tem sido investigada pelos órgãos internos do clube e foi pauta na última reunião do Conselho Deliberativo. A tensão sobre este tema fica ainda mais latente pela situação do presidente Augusto Melo, que está sob risco de ter um eventual impeachment dele votado pelos conselheiros ainda neste ano.
Conclusões e Reflexões
A investigação da Gazeta Esportiva sobre a contratação de empresas de segurança pelo Corinthians levanta sérias preocupações sobre a gestão do clube. A falta de transparência, a contratação de empresas irregulares e a desobediência às recomendações do compliance colocam em risco a reputação e a segurança do Corinthians .
A situação exige uma investigação profunda por parte dos órgãos internos do clube, incluindo o Conselho Deliberativo, para apurar as responsabilidades e implementar medidas para evitar que novas irregularidades ocorram.
O caso do Corinthians serve como um alerta para outros clubes e empresas sobre a importância de ter processos rigorosos de contratação e gestão de empresas de segurança. A falta de cuidado e a busca por soluções rápidas e baratas podem resultar em problemas sérios e custosos para a longo prazo.
É fundamental que os clubes e empresas priorizem a segurança e a legalidade em suas operações, garantindo que as empresas contratadas sejam qualificadas, regulamentadas e que os serviços sejam prestados de acordo com as normas e leis vigentes.
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