Impasse no Corinthians: Augusto Melo e o Caso VaideBet

A Investigação Policial e o Apagamento de Dados

O cerne da controvérsia que envolve Augusto Melo, presidente do Corinthians, reside num contrato de patrocínio com a VaideBet, fechado em janeiro de 2024. A investigação policial, iniciada em maio, centra-se na figura de Alex Cassundé, intermediário do negócio que recebeu uma comissão substancial de R$ 25 milhões (7% do valor total do contrato).

Uma reportagem do jornalista Juca Kfouri apontou indícios de que parte do dinheiro foi direcionado para uma empresa de fachada, a Neoway Soluções Integradas em Serviços, vinculada a uma pessoa com endereço modesto, contrastando com o endereço empresarial registrado na Avenida Paulista. Este fato crucial desencadeou a abertura de um inquérito pela Polícia Civil.

Um detalhe intrigante emerge do relatório policial: o celular de Alex Cassundé, entregue às autoridades, apresentou dados apagados após o início da investigação. A polícia concluiu que informações anteriores a 30 de maio de 2024 foram provavelmente deletadas intencionalmente. A defesa de Cassundé argumenta que não houve obstrução à justiça, alegando a possibilidade de configurações automáticas de exclusão de mensagens no WhatsApp.

Essa discrepância entre as alegações da defesa e as conclusões da perícia policial acirra o debate e lança sombras sobre a transparência do processo.

Minutas Contratuais e a Inclusão Tardia do Intermediário

A análise das sete versões do contrato entre o Corinthians e a VaideBet revela outra peculiaridade. Alex Cassundé só foi incluído na quarta minuta, após uma revisão por um representante da VaideBet. Na primeira versão, um comentário do diretor jurídico da VaideBet questiona explicitamente a presença de um intermediário: ?Há intermediário nessa contratação??

A VaideBet, contatada pela reportagem, optou por não comentar o assunto, alimentando ainda mais as especulações.

A inclusão tardia de Cassundé no contrato levanta questionamentos sobre a real natureza de sua participação na negociação e a transparência do processo de contratação.

Depoimento de Alex Cassundé e as Discrepâncias

Em seu depoimento à Polícia Civil, Alex Cassundé alegou ter sido indicado por Sérgio Moura, então diretor de marketing do Corinthians . Ele descreveu sua busca por contatos para patrocínios, usando ferramentas como o ChatGPT e o LinkedIn.

Cassundé afirmou não ter experiência em intermediação, apenas em vendas, e que não participou diretamente das negociações entre o Corinthians e a VaideBet. Ele descreveu sua atuação como "quase que uma espécie de trabalho de telemarketing".

Quanto ao pagamento à empresa Neoway, Cassundé justificou a transação como investimento em um negócio de plano de saúde pet, alegando ter sido vítima de um golpe por um indivíduo identificado apenas como Maurício.

A ausência de documentação que comprove suas alegações e a falta de contato com Maurício geram dúvidas sobre a veracidade de seu depoimento.

O Impasse Político e a Divisão no Corinthians

A situação gerou uma profunda cisão no Corinthians , dividindo conselheiros e torcedores entre defensores e opositores de Augusto Melo. A maior torcida organizada, a Gaviões da Fiel, defende que o processo de impeachment não deve prosseguir antes do término da investigação policial.

Conselheiros, por outro lado, demonstram inclinação pela destituição do dirigente. A votação marcada para segunda-feira definirá o futuro imediato de Augusto Melo no comando do clube.

Vale ressaltar que, até o momento, nenhum dirigente do Corinthians foi indiciado ou considerado suspeito no inquérito.

O futuro de Augusto Melo dependerá da decisão dos conselheiros e do desenrolar das investigações, um cenário repleto de incertezas e tensões.